A Psico-Oncologia como uma nova proposta de abordagem que valoriza as relações humanas, a partir da prática do médico-veterinário

24/05/2019 | Supreaespecialidades

A criação da Supraespecialidade Psico-Oncologia “nasceu” do trabalho do grupo PSICONVET, criado em 2013 por psicólogos e veterinários oncologistas dedicados à reflexão e ao estudo dos processos psíquicos observados em tutores de animais que adoecem por câncer.

A experiência da psico-oncologia com pacientes humanos originou-se como uma área de intersecção entre psicologia e oncologia. Nesta intersecção o psicólogo, ou terapeuta, atua direcionando e oferecendo escuta ao sofrimento humano, seja ao paciente doente por câncer ou ainda à sua família. No contexto veterinário, a psico-oncologia tem propósito semelhante e direciona sua atenção ao tutor e à família do paciente animal.

A confirmação de um câncer em um pet pode ser experimentado como algo impactante e, até desencadear momentos de desorganização psíquica, principalmente entre os tutores que possuem alto grau de apego aos seus animais.  Momentos de desestruturação, mesmo que temporários, podem interferir nas várias tomadas de decisões relacionadas ao tratamento e cuidados com o animal doente.

Para alguns tutores, o período de tratamento compreende vários temores e experiências individuais, muito frequentemente associados a efeitos colaterais produzidos no tratamento de pessoas. Ainda, a ausência de consciência dos nossos pacientes sobre sua condição de doente, exige de seus tutores o trabalho psíquico de ter de “pensar e agir por eles”, o que pode mobilizar e fazer aflorar sentimentos de raiva, culpa e impotência.

Em medicina veterinária a eutanásia é uma prática lícita e, a possibilidade de praticá-la profissionalmente, coloca o médico veterinário como um profissional com experiência particular neste quesito. O tema eutanásia é sempre um assunto difícil, pois nos convoca a refletir sobre nossa limitação de recursos frente à inexorabilidade da vida.

O luto pela perda de um animal de estimação nem sempre é plenamente compreendido pela sociedade. Não raramente tutores relatam constrangimento pelo não reconhecimento de sua dor seja família ou por amigos, o que pode reforçar um luto complicado pelo sofrimento solitário e silencioso. A sensação de vazio pela perda de um companheiro de anos de convívio pode ser motivo de reforço à tristeza e evoluir para quadros depressivos. O recolhimento é, até certo ponto, uma tendência comum e esperada em pessoas enlutadas, porém a manutenção e o estímulo a vínculos afetivos com amigos, familiares ou à uma rede de apoio é uma boa forma para evitar a sensação de dor e solidão.

Consideramos importante que sejam estimuladas discussões entre os profissionais envolvidos na prática clínica da oncologia veterinária e, se possível, incluir o psicólogo como parte desta equipe multidisciplinar. A escuta e acolhimento dos tutores, e também dos profissionais envolvidos, pode influenciar, positivamente, nas decisões entre a equipe médica e os tutores.

O profissional veterinário é também uma das partes que se beneficia desta abordagem mais generosa e acolhedora; sua posição como alguém que “trata e cuida”, mas também aquele que “ajuda a morrer”, o coloca em situação de muita vulnerabilidade psíquica. Desta forma a psico-oncologia pode ser compreendida como uma nova inspiração na prática dos profissionais envolvidos em oncologia veterinária.

 

Autoria:

Membros da supra-especialidade Psico-Oncologia