O controle local do tumor em pacientes veterinários com neoplasias sólidas representa um dos principais desafios para os oncologistas veterinários. A ausência do controle local  da doença se torna mais difícil principalmente devido a encaminhamentos tardios ou rápido crescimento tumoral, o que muitas vezes leva a  impossibilidade de cura. Sendo necessário então uma abordagem multimodal envolvendo terapias em momentos neoadjuvante ou adjuvante, como quimioterapia, eletroquimioterapia ou radioterapia.

A eletroquimioterapia tem sido amplamente utilizada nos últimos 15 anos como um tratamento local de neoplasias sólidas, com altas taxas de respostas e efeitos adversos mínimos. Poder utilizada como terapia de neoadjuvante, adjuvante, transcirúrgica ou ainda em caráter paliativo. A facilidade de administração, baixa morbidade e baixo custo relativo são as principais vantagens desta técnica. A aplicação envolve a associação de agentes quimioterápicos com a aplicação de pulsos elétricos que promovem aumento da permeabilização da molécula do quimioterápico para o meio intracelular. Este fenômeno elétrico chamado de eletroporação consiste na abertura de pequenos poros na membrana celular após a exposição a campos elétricos de alta intensidade e curta duração.

O principais quimioterápicos utilizados na eletroquimioterapia são a bleomicina e a cisplatina.

A bleomicina é um composto lipofóbico que necessita de receptores para penetrar na membrana celular. Em condições fisiológicas normais sua captação é lenta e quantitativamente limitada células neoplásicas podem ter diminuição na expressão ou até mesmo ausência destes receptores, o que representa uma forma de quimioresistência A permeabilização da membrana celular por meio do uso de pulsos elétricos que pode promover a captação de bleomicina, aumentando em até 700 vezes sua permeabilidade. O mecanismo de ação da bleomicina sob condições normais é a fragmentação do DNA. O número de lesões do DNA aumenta consideravelmente quando utilizada na eletroquimioterapia.

Embora apresente alta toxicidade quando administrada via endovenosa, a cisplatina pode ser utilizada de forma segura via intralesional ou intratumoral. Sua utilização na eletroquimioterapia está associada a alta eficácia sem efeitos sistêmicos adversos quando utilizada via intralesional, inclusive em gatos.

Em medicina veterinária, os pacientes submetidos a eletroquimioterapia sempre necessitam de anestesia geral.

A histogênese da neoplasia não é uma fator limitante para a utilização desta terapia embora alguns tipos histológicos como neoplasia de células redondas, neoplasias epiteliais e melanocíticas apresentem maiores taxas de resposta.

O sucesso no tratamento depende principalmente da indicação correta desta modalidade. Estadiamento clínico e o  diagnóstico histopatológico da neoplasia são fundamentais nesta decisão.

 

 

Autores:

Karine Germano
Carlos Bunner

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